António Costa: "Temos de evitar a todo o custo que a austeridade entre na vida dos portugueses"

O primeiro-ministro, em entrevista à TVI, explicou que "é preciso controlar a pandemia, tratar a economia para que ela não afete as finanças".
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O primeiro-ministro António Costa esteve esta sexta-feira no programa "Você na TV", da TVI, para falar sobre a pandemia de coronavírus e as consequências que ela poderá ter na economia portuguesa.

E uma das frases fortes do chefe de Governo foi mesmo sobre o futuro e o desejo que Portugal não volte a ter um plano de austeridade para fazer face a uma crise. "Há dez anos havia um problema com as finanças do Estado, agora temos um problema de saúde que atingiu as finanças. São situações diferentes. Por isso, agora, temos de controlar a pandemia, para depois tratarmos da economia, por forma a que ela não afete as finanças. Só se falharmos na saúde e na economia é que teremos problemas nas finanças do Estado", começou por dizer António Costa.

O primeiro-ministro considera "imoral" que se tenham registado despedimentos nas empresas portuguesas nesta altura complicada. E nesse sentido, deixou um aviso: "Temos de evitar a todo o custo que a austeridade entre na vida dos portugueses. E para isso temos de fazer um grande esforço para manter as empresas vivas."

A tónica do discurso voltou a ser apontada para o sacrifício que todos têm de fazer para cumprirem as normas de confinamento domiciliário. E mostrou-se convencido de que a situação não irá sofrer alterações nos próximos dias: "Ficaria surpreendido se o senhor Presidente da República não prolongasse o estado de emergência. Seria um sinal errado de que podemos começar a aliviar."

António Costa frisou até que "este é o momento mais difícil" que todos vão enfrentar "porque o cansaço em relação às restrições vai aumentando". Contudo, assumiu que este é um momento crucial: "Quanto mais nos focarmos agora, mais depressa nos libertamos das restrições."

Testes a todos os funcionários de lares

Questionado sobre o problema dos lares de idosos, que são perigosas fontes de contágio, António Costa lembrou que no início desta crise sanitária "foi tomada a decisão de interditar as visitas aos lares" e nesse sentido fez questão de enaltecer um fator que assume agora grande importância: "Os funcionários têm tomar as medidas para não serem transmissores. Por isso, uma prioridade tem de ser a de fazer testes a todos eles para que, sobretudo os assintomátios, não transmitam a doença."

O primeiro-ministro deixou claro que o Governo está a fazer todos os possíveis para que nada falte para que esses testes sejam feitos e por isso lembrou a parceria com

Para ter testes para todos, revela a parceria com o Instituto de Medicina Molecular (IMM) para "criar testes mais rápidos". "Temos ainda em Portugal uma empresa que fazia cotonetes e adaptou-se e passou a fazer zaragatoas porque tínhamos escassez desse instrumento importante na realização de testes. E agora falta-nos encontrar uma empresa que possa produzir reagentes, que escasseiam no mercado", sublinhou.

A cultura é também uma preocupação de António Costa, que está consciente de que "o cancelamento dos espetáculos afetou milhares de pessoas. Não foram apenas os artistas, porque por detrás deles há uma máquina imensa".

"O Estado pagou os espetáculos que tinha contratado, apesar de não se realizarem, e algumas autarquias fizeram o mesmo, adiando os espetáculos. Criámos linhas de crédito de apoio, mas muito importante é o facto de alguns artistas terem criado uma forma de continuarem a trabalhar, agora online", referiu, manifestando depois a opinião de que terão de ser pagos por esse serviço de levarem os seus espetáculos às pessoas. "O Teatro Aberto colocou online algumas peças antigas, outros teatros fizeram o mesmo, mas é preciso que isso não quebre o ciclo económico normal", frisou.

Pedido ao Banco de Portugal e o Eurogrupo

No que diz respeito às linhas de crédito disponibilizadas pelo Estado, António Costa assumiu, que nesta altura, "os bancos têm de ser sensibilizados" para o momento complicado que o país atravessa, lembrando que "em tempos foram os portugueses a ajudar a banca". "O senhor Presidente da República procurou sensibilizá-la e, mesmo eu, já pedi ao Banco de Portugal para supervisionar os créditos concedidos com apoio estatal", revelou.

No que diz respeito à solidariedade dos membros da União Europeu, o primeiro-ministro admitiu que "é urgente que o Conselho Europeu se reúna e comece a construír o plano de reconstrução" que será preciso depois da pandemia.

"A Holanda é o país que mais sobrevive do mercado interno e tem de perceber a crise que nos atinge, para que possamos recuperar todos juntos. O Luxemburgo, a Bélgica e a Irlanda têm apoiado as nossas posições, por isso não se trata de um problema de falta de compreensão dos paíeses do Norte da Europa. E ao que sei, a Holanda ficou absolutamente isolada na última reunião do Eurogrupo, mas o governo alemão tem tido uma postura construtiva", explicou.

A terminar, António Costa comentou os dados do Ministério da Saúde, desta sexta-feira, dizendo que demonstram "a luz ainda não se vê ao fundo do túnel" e, como tal "é preciso continuar a cumprir as restrições". "A melhor forma de estarmos junto na Páscoa é estarmos longe uns dos outros, para que na próxima Páscoa e nas outras a seguir já seja melhor e possamos estar todos à mesma mesa", finalizou.

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